quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Só mais um pouco

Quinze. Uma década e meia. Mais de uma dúzia. Quase dezoito.
Pensar nisso me faz feliz, mas ao mesmo tempo me deixa nervosa, preocupada.
Daqui a dois anos eu não vou mais estar no colégio, o lugar onde, por mais que eu não goste, eu me encaixo, onde eu passei minha vida quase toda, o lugar que daqui a pouco eu vou abandonar. Daqui a três anos eu vou poder dirigir, uma coisa que, ontem, pra mim, era um sonho longínquo. Daqui a um ano eu vou poder votar, e eu me lembro como se fosse ontem, de quando ia com meus pais apertar os botões na urna. Me sentindo tão orgulhosa e mais velha.
Quando eu tinha dez, meu sonho era chegar aos treze. Aos doze, meu sonho foi ter catorze. Aos catorze, eu pensava "poxa, quero ter quinze". Mas, agora, a três horas dos quinze, tudo que eu quero é parar o tempo.
Assistir ao relógio virar os minutos é um nervoso, pensar que se eu dormir, vou acordar mais velha é uma agonia.
Eu tenho pensado demais no tempo, é uma pressão muito grande pra mim, envelhecer.
O tempo passa muito rápido, coisas de dois anos atrás parece que aconteceram semana passada.
O tempo passa muito rápido. O tempo passa, o tempo voa.
O tempo não pára.
Mais um minuto, que lateja no meu cérebro. Um minuto a mais na vida, que naõ volta mais. Um minuto a menos no tempo que me espera a frente.
Pensar que até as coisas mais bobas fazem diferença. Desenhos e livros não me atingem mais. A Terra do Nunca, se fosse real, jamais eu alcançaria, não sou mais uma criança, afinal.
A carta de Hogwarts, que eu não recebi, jamais receberei. Não tenho onze anos, faz tempo.
Vida passa, tempo corre, e eu aqui parada, escrevendo. A gente passa tempo demais preocupando-se com o que já foi, e o que virá, que não vê o agora passar. E quando agente vê, o agora já é passado, e agora já é outra hora.
Quantos dias eu passei, sentada numa cadeira, mexendo no computador, querendo estar com meus amigos. Quantas horas eu perdi, dormindo o dia inteiro.
Mas, se for pensar, por um lado, é até bom. Eu fiz o que gostava, eu dormi o dia inteiro, eu passei o dia jogando no computador.
Mas aí eu paro pra pensar, quanto dias será que eu ainda tenho pra passar jogando no computador ou dormindo até a noite?
Tem gente que fala que, quando a gente morre, revive, ou fica vagando por aí. Mas uma hora "reviver" não vai ser mais possível. Uma hora, "por aí" não vai mais existir. E quando o Sol acabar? Pra onde vamos? "Não vamos mais estar aqui" eu pensaria. Mas se nós realmente vagarmos por aí, iremos pra onde quando o "por aí" não existir mais? E o que acontecerá quando nós pararmos de reviver? Me dá um aperto enorme pensar nisso, mas é a realidade.

Por enquanto, eu quero só não pensar. Por enquanto, eu quero poder pensar que a minha carta de Hogwarts ainda vai chegar, que um dia eu ainda vou acordar no meio da noite sendo observada pelo Peter Pan. Eu ainda quero acreditar na fantasia, porque a realidade ainda me incomoda demais. Por enquanto, eu quero só arrastar a realidade com a barriga, deixando-a de lado, pra mais tarde, e viver as minhas fantasias de agora.
Por enquanto, eu quero só fechar os olhos e esperar a hora chegar, em que o relógio vira meia noite, e eu viro debutante.
Por enquanto, eu sorrio feliz de respirar fundo e sentir o ar, de bater os dedos nas teclas e continuar a escrever, de estar viva e continuar a viver.



"But times makes you bolder, even children get older... and I'm getting older too"

"O tempo está correndo contra nós, então temos que ser feliz o quanto antes"