segunda-feira, dezembro 12, 2011

Senior year

Parece que foi ontem que eu tinha sete anos de idade e chorava pelos corredores do Notre Dame, pensando que nunca mais veria meus amigos - esses amigos que nunca mais eu vi.
Parece que há poucas horas eu estava chegando na segunda série do Franco-Brasileiro e nunca imaginando como seriam os próximos oito anos da minha vida. Parece que foi hoje mesmo que eu conheci pessoas novas, sentei na escada da porta pra minha futura sala de aula pra conversar, fiz amigos, briguei, corri atrás de meninos, tive paixonites fajutas e passageiras, outras tão reais que até pareciam verdadeiras. Parece que foi hoje que eu conheci aquelas cinco meninas, sem saber que mudariam minha vida, passariam comigo por tantas fases e estrariam comigo até hoje. Parece que há algumas horas atrás eu brigava com meu coordenador, fazia amigos novos, chegava numa turma onde eu não conhecia ninguém e nunca pensaria que seriam amigos queridos depois de dois anos. Parece que foi só há alguns minutos que eu vivi uns dos melhores anos da minha vida, parece que tem só alguns minutos que eu realmente comecei a viver. Parece que eu ainda tenho catorze, quinze anos. Parece que toda minha vida existiu nesse tempo.
Parece que foi ontem que eu conheci uma galera na praça, à noite, como toda mãe sempre fala pra gente não fazer. Parece que foi ontem que eles entraram na minha vida, que eu festejei, viajei, me apaixonei por uma amizade incrível criada em apenas um ano. E parece que foi ontem que eu descobri um amor e comecei a namorar, parece que foi ontem que eu mudei de escola, parece que foi ontem que eu fiz aniversário, com uma festa conturbada e turbulenta. Parece que não faltam dois meses para os meus dezessete.
Parece que não falta um ano pra eu concluir a escola.

Mas eu temo a hora em que eu perceber que, realmente, o fim do colégio está logo aí. Meu futuro inteiro está bem aqui, na minha frente, e eu tenho medo de olhar pra ele. Porque, como posso eu saber escolher, aos dezessete anos, o que eu vou fazer pelos próximos cinquenta?
Não é como na escola, sabe? Quando você está na escola e ainda faltam alguns anos pra acabar, parece que você tem todo o tempo do mundo. E nessa época eu pensava que ficar em dúvida não era tão ruim - afinal, eu ainda teria tempo. Eu pensava que, quando chegasse a hora, eu iria saber escolher. Mas, de um ano pra cá, só me apareceram mais opções!
Eu tento manter em mente que não é o fim. Você sempre pode escolher um curso e mudar, escolher uma carreira e mudar. Mas vai ficando cada vez mais complicado.
Digo, é realmente complicado: decidir o que você vai fazer durante os próximo cinquenta anos, que é mais que o dobro de tudo que você já viveu até hoje, e acertar na mosca. Me surpreendo se existirem cem pessoas no mundo que nunca pensaram em mudar.



Tanta vida, tão curta. Tantos anos, tão poucos. Tantas festas, bebidas, amores, desamores, tantos carnavais e tantas fantasias. Parece que minha vida aconteceu toda em dois anos. Parece que eu ainda nem vivi. Parece que eu ainda sou a mesma.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Ao senhor, com desprezo.

Ditadura, autopromoção, capitalismo extremista. O Brasil já superou tudo isso, por que o senhor não o faz? O senhor quer uma escola ou uma prisão? Se for uma prisão o que o senhor quer, está indo pelo caminho certo. Uniformes, grades, permissão para falar e nenhuma para ser ouvido, até o começo desse ano a sua escola tinha carteiras do século passado, senhor. Mas, se pretende algum dia tornar esse estabelecimento uma escola, gostaria de avisar que o senhor tem um longo caminho pela frente. Ouvir os alunos, fazê-los pensar, mostrá-los cultura, torná-los pessoas.

O senhor precisa entender que ensinar não é bater com um livro na mesa da criança, mandá-la ler e resolver questões de faculdade. Ensinar é pegar o livro, mostrar à pessoa sobre o assunto, fazê-la pesquisar, se interessar e, assim, ela lhe ouve e tem opiniões; e quando as tem, o senhor deve ouvi-la também, assim como ela ouviu o senhor. Tratar alunos como robôs nunca deu certo numa escola, tratar jovens como crianças nunca deu certo no mundo. O senhor dá aula para pessoas de dezesseis a dezoito anos, ou mais. Seus alunos têm cabeça, senhor, trate-os como merecem ou eles não lhe tratarão como o senhor gostaria. Dê aos alunos uma chance de falar que eles lhe ouvirão com mais gosto. Dê aos alunos uma escola, minha chance de viver essa época já passou. Vou me formar, já saí do colégio. Mas, senhor, eu gostaria muito de poder um dia passar pelo seu colégio e ver jovens adolescentes felizes, ao contrário das cenas que vejo hoje - pessoas desesperadas, um mundo cinza, uma escola de cabresto.

Ah! só mais uma coisa, tente modernizar a escola só um pouco. Não faz mal algum, aliás, eu fiquei sabendo que existem escolas públicas mais modernizadas que a sua. Pense um pouco, senhor, não jogue esse papel no lixo. Leia-o junto com todos os outros e veja como os seus alunos realmente pensam. Porque, apesar de todas suas tentativas, eles NÃO se tornaram robôs que tiram dez em tudo e te ajudarão a aparecer melhor no ranking de escolas do próximo ano. Não, eles continuam pessoas, para minha alegria, e têm algumas coisas a dizer ao senhor.

Meus agradecimentos e meus sinceros desejos de que o senhor mude ou saia da coordenadoria,

Claudia Nina Fernandes Cruz Paes, a esquisita.